Uma dessas imagens que compõem a visão mais leiga do fisiculturismo é a de que a prática desafia a saúde com seus supostos exageros, seja nos treinos ou nos hábitos de alimentação. Neste quesito em particular, os praticantes afirmam com a convicção de um ideal que a meta de construção de músculos é mais saudável do que alguns acontecimentos melhores aceitos na sociedade.
"Uma modelo fica sem comer para ficar magrinha, arrisca a sua saúde, e depois a gente é que é errado. A gente que só leva coisa boa para o corpo", diz Lucas di Santi, brasileiro campeão mundial da Nabba (National Amateurs BobyBuilders Association), uma das entidades mais tradicionais do fisiculturismo, em menção a casos de bulimia entre as meninas que desfilam.
"Fazemos exames antes, durante e depois das competições. Apresentamos estados de saúde inalterados em todos eles. Passamos por exames de colesterol, de fígado, por check up completo. Tudo é documentado", afirma José Guilherme Jr., praticante e técnico de Di Santi.
Na visão de quem carrega a bandeira do fisiculturismo nas primeiras linhas de batalha, pelo menos aqui no Brasil, a prática deveria ser mais bem aceita pela sociedade também em razão de sua finalidade desbravadora para o universo do fitness. Eventuais exageros de treinamentos e de hábitos alimentares funcionam como uma espécie de experimentos para os milhares de praticantes comuns da musculação ao redor do mundo, alegam os defensores. Neste conceito, incluem-se os riscos.
"O fisiculturismo está para a preparação física como a Fórmula 1 para o automobilismo. Você não critica o cara por andar a 300 km/h, mas eles desenvolvem os freios ABS que você anda por aí. Fazemos o mesmo para os métodos de treino e de fitness de todo mundo", argumenta Fernando Marques, representante em São Paulo da IFBB (International Federation of Body Building and Fitness).
UTOPIA OLÍMPICA: "O CICLISMO TEM MAIS CASOS DE DOPING"
A expectativa é de que o fisiculturismo apareça como esporte de demonstração durante os Jogos Pan-Americanos de Guadalajara, neste ano, em uma batalha de décadas que hoje sonha com o ingresso da prática como exibição na Olimpíada do Rio de Janeiro. No entanto, a associação comum da atividade com o doping torna a missão quase improvável, na visão de dirigentes brasileiros.
Com um ar de resignação pela exclusão da "família olímpica", os nomes importantes do fisiculturismo do país não negam os incidentes com substâncias irregulares, mas contestam os modelos de controle antidoping atualmente praticados no universo dos esportes amadores, como ciclismo e natação.
"Para ingressar no universo olímpico, qualquer modalidade precisa se enquadrar em parâmetros. Um deles é o controle de doping. E o nosso esporte tem como outdoor o corpo, por isso o preconceito. Muita coisa é mito, muita coisa é verdade. Mas a gente sabe que o antidoping é uma grande demagogia. Se fosse feito em todos os atletas, poderíamos confiar. Mas é feito por sorteio", comenta Rodrigo Koprowski, presidente da Nabba no Brasil.
"Toda hora aparece um caso no ciclismo. É o esporte com maior número de casos. Na natação também acontece bastante. Já vi muito", afirma o campeão Lucas di Santi.
O idealismo a respeito da prática do fisiculturismo como benefício à saúde recentemente inspirou José Guilherme Jr. a encarar um desafio dos mais complexos. O treinador relaxou no peso planejadamente para poder se colocar à prova de uma missão de emagrecimento através da prática de sua modalidade.
Desta forma, o treinador de Lucas di Santi diz ter conseguido passar de 139 kg em dezembro de 2010 para 98 kg em março de 2011, em três meses.
"O fisiculturismo é a arte da metamorfose. Você consegue resultados incríveis. A gente luta contra o que chamo de demonização. A nossa luta é que essa imagem saia do seio da sociedade", diz.
INSPIRADA PELO EXTERMINADOR, CAMPEÃ LARGA O DIREITO
A culturista ao lado é Andréa Carvalho, uma das mais renomadas do país, campeã mundial em 2005. A atleta diz ter se lançado na musculação inspirada por corpos altamente desenvolvidos do cinema e da TV. "Quis ser forte desde que vi a mulher do Exterminador do Futuro 2 e a Madonna", diz.
A campeã que abandonou a carreira como advogada ainda relata que em temporadas de preparação para competições, de 12 a 15 semanas de trabalho puxado, passa por sacrifícios que alteram bruscamente seu estado de humor. "Não saio nem de casa. Lá pela sétima semana tenho vontade de matar alguém. É um nível baixíssimo de carboidratos, com proteína alta. É só frango fervido na água e uma rodela de batata por refeição", relata.
A campeã que abandonou a carreira como advogada ainda relata que em temporadas de preparação para competições, de 12 a 15 semanas de trabalho puxado, passa por sacrifícios que alteram bruscamente seu estado de humor. "Não saio nem de casa. Lá pela sétima semana tenho vontade de matar alguém. É um nível baixíssimo de carboidratos, com proteína alta. É só frango fervido na água e uma rodela de batata por refeição", relata.
COMO FUNCIONA UMA COMPETIÇÃO?
Os atletas desfilam em trajes mínimos que possibilitam os juízes avaliarem o culturista em três critérios: volume muscular, definição muscular e simetria corporal. Nas competições da IFBB, por exemplo, os praticantes têm as avaliações mais alta e baixa descartadas, em busca de uma média. "A gente usa uma sunga menor que um fio dental", conta Lucas di Santi.
OS TRUQUES DE BRONZEAMENTO
Geralmente os atletas de ponta do fisiculturismo enfrentam sessões de bronzeamento artificial nas últimas seis semanas que antecedem uma competição. O recurso é suspenso a poucos dias da apresentação.No dia da competição, os competidores ainda fazem uso de maquiagens corporais para ampliar esta sensação.
"Buscamos o máximo de bronzeamento para evidenciar a musculatura. São truques de preparação, mas nem todos dominam essas técnicas", diz José Guilherme Jr., técnico e praticante.
Fonte:esporteUOL -
Bruno Freitas
Em São Paulo
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